Dois anos e quatro meses depois de deixar a carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde permaneceu preso após condenação em segundo grau em processo da Operação Lava Jato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) volta à capital do Paraná em busca de apoio político para a eleição presidencial de 2022.
Esta é a primeira vez que Lula retorna à cidade onde permaneceu preso por 580 dias. O ex-presidente chega nesta sexta-feira (18), onde participa da solenidade de filiação do ex-governador do Paraná e ex-senador Roberto Requião. No sábado (19), o ex-presidente segue com Requião para Londrina, para visita a um assentamento do Movimento Sem-Terra (MST).
Em Curitiba, o ato será na Expo Unimed, na Universidade Positivo, e deve ser a única agenda aberta. Depois do evento, o ex-presidente deve se encontrar com líderes partidários.
O diretório do PT no Paraná estruturou um esquema de segurança próprio para escoltar Lula durante os eventos que acontecerão no fim de semana, como divulgou o colunista Guilherme Amado, do Metrópoles. O partido conta com um setorial de filiados, que trabalham na área de segurança pública no Paraná. Esse grupo de petistas ajudou a planejar os eventos e atuará na proteção do ex-presidente em cada um deles.
Conforme o colunista, o PT também contratou empresas de segurança privada nas cidades paranaenses e discutiu a organização dos atos com o secretário de Segurança Pública do estado, coronel Romulo Marinho Soares, e com as chefias das polícias militar e civil.
O presidente do diretório do PT no Paraná, deputado estadual Arilson Chiorato, conversou na quarta-feira (16) com o governador Ratinho Jr. e pediu para que o estado garanta a proteção de Lula e dos petistas que irão aos eventos.
O partido do ex-presidente também encaminhou à polícia um mapeamento com as ameaças que o diretório local recebeu nos últimos dias, com mensagens e vídeos incentivando a violência em grupos de WhatsApp e no Facebook. A equipe de segurança de Lula e do PT vão acompanhar pelas redes sociais a movimentação da torcida de Ratinho Junior.
Por meio de comunicado oficial, a Polícia Militar do Paraná informou que haverá reforço das equipes e monitoramento das ações, para evitar eventuais conflitos. Leia abaixo a nota na íntegra:
“A Polícia Militar, responsável pelo patrulhamento preventivo, está atenta às movimentações e reforçará o policiamento preventivo nas proximidades do local do evento e em pontos da cidade apurados como de potenciais conflitos. A Corporação já lida com situações de eventos que reúnem centenas de pessoas e está organizada para mais este.”
A preocupação do PT em relação à segurança de Lula se dá pelo histórico recente das cidades de Curitiba e Londrina. A capital foi um marco para o lavajatismo e se tornou berço de diversos movimentos de oposição ao partido. E Londrina tem forte identificação com a direita. A cidade do Norte do estado deu 80,42% dos votos a Jair Bolsonaro no segundo turno de 2018.
Palanque para Lula
Requião ingressa no PT para disputar o quarto mandato de governador. Sua presença nas eleições estaduais garantirá palanque para Lula no Paraná, estado que apresentou alta rejeição ao Partido dos Trabalhadores no último pleito presidencial.
No segundo turno de 2018, Jair Bolsonaro (PL) venceu em 307 das 399 cidades paranaenses, angariando 68,4% dos votos válidos, contra 31,6% de Fernando Haddad (PT), que foi o mais votado nos outros 92 municípios.
Emedebista histórico, Requião deixou a legenda em agosto de 2021, após perder a presidência do partido no Paraná para o deputado estadual Anibelli Neto.
No sábado passado, o MDB declarou oficialmente apoio à administração do governador Ratinho Júnior (PSD), que é alinhada ao governo Bolsonaro.
Lula e Requião visitam assentamento do MST em Londrina
Após a passagem por Curitiba, Lula segue para Londrina (386 km da capital), na manhã de sábado (19), onde se encontra com apoiadores no assentamento do MST Eli Vive, a maior área de reforma agrária inserida em região metropolitana do Brasil e criada pelo ex-presidente durante sua segunda gestão, em 2009. São esperadas ao menos dez mil pessoas.
Em Londrina, segunda maior cidade do estado, a rejeição ao petista é maior que a média estadual: em 2018, por exemplo, 80,1% dos votos válidos para presidente no segundo turno foram para Jair Bolsonaro, contra 19,6% para Fernando Haddad.
A visita do ex-presidente é organizada pelo MST e se dará no assentamento situado em Lerroville, um dos oito distritos rurais do município, distante cerca de 57 quilômetros da área urbana. Criado há 13 anos, o Eli Vive tem 7.500 hectares de extensão que abriga 501 famílias assentadas, com cerca de 3.000 moradores.
No assentamento, que tem 109 quilômetros de estradas rurais, os camponeses produzem grãos, hortaliças, leite, café e panificados.
A cooperativa do assentamento fornece dez toneladas por semana de alimentos para o Pnae (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e, na última safra, comercializou 15 mil sacas de milho, 10 mil sacas de soja e 10 mil sacas de feijão preto e carioquinha.
Outras 15 toneladas de alimentos são entregues na Ceasa (Central de Abastecimento) toda semana, além da comercialização de 80 mil litros de leite por mês.
São esperadas dez mil pessoas para a visita do ex-presidente, a maioria de militantes do MST em todo o estado. Lula virá acompanhado de Requião e da presidente do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann. Também estão confirmadas as presenças dos dirigentes nacionais do MST João Pedro Stédile e João Paulo Rodrigues.
O ato está previsto para começar às 10h e terminar às 15h e marcará o lançamento dos Comitês Populares, que atuarão na organização da campanha eleitoral de Lula no Paraná. A estimativa é criar 5 ml comitês em todo o estado, de acordo com a organização do evento. O ex-presidente volta para São Paulo ainda no mesmo dia.
PT busca apoio nos estados brasileiros
Com Lula bem colocado nas pesquisas eleitorais, o PT busca apoio nos estados costurando alianças com partidos e políticos expoentes, de diversas linhas ideológicas.
Um dos principais articuladores da vitória petista em 2002 e homem-forte do primeiro governo de Lula, o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu tem se reunido com políticos da esquerda à direita para pregar uma união suprapartidária contra a reeleição de Jair Bolsonaro.
A lista de interlocutores inclui velhos adversários do PT, como o ex-senador e ex-presidente do extinto PFL Jorge Bornhausen (SC) e o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), de quem é amigo.
Para angariar votos em São Paulo e conquistar votos mais conservadores, Lula namora o ex-governador Geraldo Alckmin, que deve se filiar ao PSB na próxima quarta-feira (23), para a vice-presidência. A possível chapa já surte efeito nos estados, reunindo antigos rivais que se enfrentaram na campanha de 2018, mas, também, afastando aliados.
Em Pernambuco, o petista estimula o governador Paulo Câmara (PSB) a concorrer ao Senado Federal, o que obrigaria o pessebista a deixar o cargo até o início de abril. Isso abriria espaço para que a vice-governadora Luciana Santos (PC do B) tivesse um “governo relâmpago”, de nove meses, como forma de compensar a fidelidade da legenda em apoio ao PT.
A ideia, entretanto, encontra resistência dentro do PSB, que vê a necessidade de ter o governador no cargo em meio à campanha eleitoral para assegurar a unidade dos aliados em torno do deputado federal Danilo Cabral, candidato da legenda à sucessão em Pernambuco.
Banda B