O número de crianças que não aprenderam a ler nem a escrever saltou de 1,4 milhão em 2019 para 2,4 milhões em 2021. Isso é o que aponta a nota técnica “ Impactos da pandemia na alfabetização de crianças ”, do Todos Pela Educação, divulgada ontem (08).
A estimativa é que o aumento foi de 66,3%.
Quando precisou ficar em casa por conta do distanciamento social – imposto com mais força no inÃcio da pandemia –, a fisioterapeuta Marianna Carvalho, 31, teve que se colocar no lugar das professoras da filha, que estava no perÃodo de alfabetização , Anna Vitória, de seis anos, e cuidar para que ela não ficasse ainda mais prejudicada por conta da suspensão das aulas presenciais.
E graças à mãe, a pequena Anna, felizmente, não entrou nos dados que apontam um aumento de 1 milhão entre as crianças com idade semelhante à dela que não aprenderam a ler nem escrever durante a pandemia.
Mesmo com auxÃlio da escola que mandava os exercÃcios, Marianna ainda sentia que era insuficiente. “Para mim ainda era pouco. Por isso, usei o recurso da internet para buscar alternativas para ela começar a desenvolver a escrita, a leitura e treinar as habilidades já conquistadas antes da pandemia”, conta.
Falta de equipamentos em casa como computadores, notebooks ou tablet, ou até mesmo de internet contribuÃram para o afastamento de muitas crianças da escola.
A nota técnica mostrou que dentre as crianças mais pobres, o percentual das que não sabiam ler e escrever aumentou de 33,6% para 51,0%, entre 2019 e 2021.
Dentre as crianças mais ricas, o aumento foi de 11,4% para 16,6%.
A pandemia também contribuiu para a disparidade de aprendizagem entre crianças brancas e crianças pretas e pardas.
“Os percentuais de crianças pretas e pardas de 6 e 7 anos de idade que não sabiam ler e escrever passaram de 28,8% e 28,2% em 2019 para 47,4% e 44,5% em 2021, sendo que entre as crianças brancas o aumento foi de 20,3% para 35,1% no mesmo perÃodo”, diz o documento.
Em texto publicado no site do Todos Pela Educação, o lÃder de polÃticas educacionais da instituição, Gabriel Corrêa, explica que o aumento da disparidade fica ainda pior quando olhado pela perspectiva de que ele agrava problemas históricos da educação brasileira.
“A alfabetização na idade correta é etapa fundamental na trajetória escolar de uma criança, e por isso esse prejuÃzo nos preocupa tanto.
E porque os danos podem ser permanentes, uma vez que a alfabetização é condição prévia para os demais aprendizados escolares. Precisamos urgentemente de polÃticas consistentes para a retomada das aulas, para que essas crianças tenham condições de serem alfabetizadas e sigam estudando.
É inadmissÃvel retrocedermos em nÃveis de alfabetização e escolaridade”, afirma.
Para chegar aos números reunidos na nota, o Todos Pela Educação utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de DomicÃlios ContÃnua (Pnad ContÃnua), de 2012 a 2021, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e EstatÃstica (IBGE), que questionou durante a pesquisa aos pais e/ou responsáveis se suas crianças sabiam ou não ler e escrever. Hoje Mais Maringá