Políticos de diferentes partidos cobraram punição e reagiram à postagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) no Twitter na qual ironiza a tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão, do jornal O Globo, durante a ditadura militar.
O parlamentar compartilhou uma imagem da última coluna dela no jornal e escreveu: “Ainda com pena da [emoji de cobra]”.
Míriam foi presa e torturada enquanto estava grávida por agentes do governo durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Em uma das sessões de tortura, ela foi deixada nua numa sala escura com uma cobra.
“Que tipo de monstro é capaz de debochar da tortura de uma mulher grávida”, perguntou o deputado federal Alessandro Molon (PSB-RJ), também no Twitter. Para o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AM), o comentário do filho do presidente Jair Bolsonaro (PL) é “nojento, covarde e asqueroso”.
A deputada Natália Bonavides (PT-RN) afirmou que a Câmara dos Deputados não pode aceitar o que ela chamou de deboche sobre os crimes da ditadura.
“A solidariedade a Miriam Leitão, torturada aos 19 anos e grávida, precisa ser a punição de Eduardo Bolsonaro”, disse. A parlamentar afirmou que vai denunciar Eduardo Bolsonaro ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
O empresário João Amoêdo, fundador do Partido Novo, disse que a ironia do deputado deve servir de alerta para os eleitores de São Paulo. “Não seremos uma nação decente e próspera elegendo pessoas que fazem declarações inaceitáveis como essa”.
“Tenho nojo do que falou o Eduardo Bolsonaro sobre a Miriam Leitão. Fala de delinquente, de miliciano, de covarde”,
escreveu o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP).
Eduardo Bolsonaro ironiza tortura sofrida pela jornalista Míriam Leitão
Para Ivan Valente (PSOL-SP), a violência do tweet de Eduardo Bolsonaro é violenta por exaltar a tortura e a violência contra uma mulher na ditadura militar.
O senador Cristovam Buarque (Cidadania-DF) disse que a canalhice é um poço sem fundo.
“O que virá abaixo do deputado Eduardo Bolsonaro ironizar a situação de uma jovem militante presa grávida, jogada sem roupas no chão de cela ao lado de uma cobra jiboia viva? É difícil, mas algo pior virá dele ou de familiar. Já provaram que são capazes”.
“O filhote de Bolsonaro é misógino e faz apologia à tortura”, disse a deputado estadual Renata Souza (PSOL-RJ).
As ofensas recebidas por mulheres jornalistas no Twitter são mais que o dobro das destinadas aos profissionais homens.
A conclusão faz parte de um estudo de 200 perfis de jornalistas brasileiros na rede social que busca compreender os padrões de ataques a eles em ambientes digitais, com foco em questões de gênero e raça.
O trabalho foi feito pela Revista AzMina e pelo InternetLab, junto com Volt Data Lab, INCT.DD, Instituto Vero e DFR Lab, com apoio do ICFJ (International Center for Journalists).
No ano passado, Míriam lançou o livro “A Democracia na Armadilha – Crônicas do Desgoverno”, que reúne textos de abril de 2016 a julho de 2021. Além de colunista do Globo, a jornalista mineira de 69 anos é apresentadora da GloboNews e comentarista da rádio CBN.
São 153 colunas ao longo de quase 500 páginas que têm como foco as ameaças à democracia, com um panorama do governo em geral. A fim de mostrar a ação do presidente para enfraquecer as instituições, os textos não se limitam à política partidária.
O regime enaltecido pelos Bolsonaros teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento.
Os números da repressão são pouco precisos, uma vez que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.016 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos.
Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.
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