Deputado Federal Ricardo Barros | foto: Ueslei Marcelino/Reuters |
O inquérito policial da Operação Pés de Barro, que investiga fraudes na compra de medicamentos de alto custo pelo Ministério da Saúde, cita cerca de 200 vezes o nome do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR). O deputado era o ministro da Saúde na época em que os medicamentos foram adquiridos pelo governo federal, entre 2016 e 2018. Na ocasião, a pasta desembolsou antecipadamente à Global Saúde, fornecedora dos remédios, R$ 20 milhões, o que não é praxe nessas negociações.
Nas 3 mil folhas que integram a investigação da Polícia Federal, o nome de Barros aparece em situações como o depoimento do servidor do ministério Victor Lahud. Aos investigadores Lahud afirmou que antes do pagamento antecipado houve grande pressão dos superiores, incluindo o próprio Barros, para a liberação dos valores. O servidor relata que se recusou a atender os pedidos por avaliar que não estavam preenchidos os requisitos para justificar a antecipação do desembolso.
“QUE essas as cobranças partiram do Sr. Alexandre Lages, bem como de outras pessoas ligadas ao gabinete, alegando sempre que o Diretor, DAVIDSON TOLENTINO, e o próprio Ministro, RICARDO BARROS, estavam cobrando que fosse feito esse pagamento; QUE todos os telefonemas que recebia com cobranças para que efetivasse o pagamento antecipado à empresa GLOBAL GESTÃO EM SAÚDE S/A mencionavam o nome do Ministro RICARDO BARROS como forma de pressionar para que fosse feito o pagamento”, diz um dos trechos do depoimento de Lahud que integram a investigação.
“Segundo informou o servidor, nos dias que antecederam o pagamento à GLOBAL, houve pressão dos superiores (especialmente do DLOG DAVIDSON TOLENTINO e do Ministro RICARDO BARROS) para que ele assinasse a autorização de pagamento. Como se recusou a fazê-lo, por entender que não estavam preenchidos os requisitos para antecipação do pagamento, a ordem teria sido assinada pelo próprio DAVIDSON TOLENTINO e por seu substituto ALEXANDRE LAGES, que assinou como gestor financeiro”, apontam documentos da investigação.
A Global Saúde, investigada neste caso pela PF, é sócia da Precisa Medicamentos, empresa alvo na CPI da Covid por suspeitas de irregularidades ao intermediar a venda da vacina Covaxin para o governo federal.
Na semana passada, a Global Saúde e a Precisa Medicamentos passaram por busca e apreensão da PF no âmbito da operação Pés de Barro. Apesar do envolvimento de Barros nos fatos, o líder do governo não é alvo deste inquérito porque tem foro privilegiado e o caso corre na primeira instância.
Em nota, Barros afirma que não é alvo da operação e que não cometeu
nenhuma irregularidade no período que foi ministro da Saúde. “Na minha
gestão no Ministério promovi uma economia superior a R$ 5 bilhões com a
renegociação de contratos, compras de medicamentos e insumos. Todos os
valores foram reinvestidos no SUS. São processos que afrontaram grandes
interesses, mas promoveram mais serviços à população”. (Blog da Cidadania)